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SOBRE O FILME
Carmen, uma jovem bailarina negra, é escalada como protagonista de um espetáculo de balé. O que parecia uma vitória logo se torna um palco que historicamente não foi feito para corpos como o dela.
Carmen sempre sonhou em dançar no centro do palco. Quando finalmente é escolhida para protagonizar um espetáculo de balé, seu corpo preto, por tanto tempo silenciado, ganha luz. Mas a alegria da conquista logo cede espaço à percepção de que o palco carrega marcas de exclusão, silêncio e dor. Rapsódia em Azul é um curta-metragem poético e político que, inspirado no legado de mulheres como Josephine Baker, mergulha nas camadas de raça, beleza e resistência por meio da dança e do silêncio.
Produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo, Rapsódia em Azul é uma realização da Agrupa Cultura e contou com uma equipe majoritariamente feminina, com forte presença de mulheres pretas em cargos criativos e de liderança. O filme nasce do desejo coletivo de construir narrativas que rompam com padrões hegemônicos de beleza, representação e protagonismo — dentro e fora das telas.


Título: Rapsódia em Azul
Duração: 15 minutos
Ano: 2024
País: Brasil
Gênero: Drama, Poético, Político
Direção e Roteiro: Marina Barancelli
Realização:Agrupa Cultura
Direção de Fotografia: Ana Torres e Daniela Klein
Direção de Arte: Govanna Heroso
Montagem: Raíssa Castor
Trilha Sonora Original: Zak Beatz
Som Direto e Mixagem: Zak Beatz
Produção Executiva: Maria Veloso
Coordenação de Produção: Camili Andrade
Produção: Luiza Gutjahr e Marina Barancelli
Ketheleen Souza como Carmen
Monique Benoski como Primeira Bailarina
Vida Santos como Professora
STILLS
Sofia Romani e Paula Lebois
TEASER
SATEMENT DIRETORA
Eu sei o que é uma sapatilha de balé desde que aprendi a andar. A arte sempre esteve comigo, mas foi vendo minha irmã mais velha dançar no balé mais prestigiado da minha cidade que eu aprendi a sonhar. O quadro dela com um vestido de organza pendurado na parede me hipnotizava — e eu queria ser como ela. Minha mãe me colocou no balé muito pequena. Eu andava pelas ruas fazendo um tendu, sonhando com o palco.
No balé aprendi sobre disciplina, técnica, hierarquia. Aprendi, também, o que significava classe. Mas junto com isso, vieram outras lições. Eu já tinha consciência da minha pele, mas foi dentro da sala de aula que entendi, pela primeira vez, que ser preta seria um problema. A meia-calça das outras meninas parecia a extensão natural de seus corpos; a minha era um pedaço branco destoando da pele. O coque delas se mantinha liso e brilhante com pouco esforço; o meu pedia gel, frizz e resistência.
Na adolescência, meu corpo mudou. Minhas pernas ficaram grossas. Por mais que eu me dedicasse, elas nunca afinavam como as das outras meninas. E foi ali, aos seis ou sete anos, ensaiando O Quebra-Nozes, que ouvi da bailarina-chefe da maior escola de dança de Curitiba uma frase que nunca esqueci: "Ah, essa neguinha safada tá sempre aí tentando aparecer."


A partir dali, a arte passou a doer. Professores que antes me inspiravam começaram a tentar me “colocar no meu lugar” — e esse lugar nunca era o centro do palco. Mas eu seguia. Queria tanto ser o que as outras meninas eram, queria tanto caber, que eu suportava. Até o dia em que, voltando de uma viagem, escutando Gershwin no volume máximo, recebi mais uma negativa. Não passei numa audição. E ali, com lágrimas e som, Rapsódia em Azul nasceu em mim.
Naquele trajeto de oito horas, eu repeti a música incontáveis vezes. Sete anos depois, ela se transformou neste filme.
Rapsódia em Azul não é lamento. É ruptura. Durante a faculdade, me tornei ativista. Quando um governo de direita assumiu o país, briguei com familiares, chorei, me senti sozinha e deslegitimada. Me disseram que falar não era o melhor caminho, que minha voz “assustava”. Pois bem — eu não falei. Eu mostrei.
Esse filme é sobre o silêncio. Mas não o silêncio do apagamento — e sim o silêncio que grita. Aquele que expõe o racismo presente no cotidiano, nas artes, nos escritórios, nas salas de aula, nos palcos. Um racismo que muitas vezes aplaudimos sem perceber. Rapsódia em Azul é a minha rapsódia sobre viver com meu corpo dentro da arte — sobre o que me foi tirado, o que me foi dado e, acima de tudo, o que eu escolhi libertar.
Porque se não havia lugar pra mim, então eu mesma me tornei o lugar.
A PRODUÇÃO